Talvez sejam parcas as palavras para descrever esta simples imagem.
Talvez outras pessoas, mais do que nós, possam explicar o que significa esta imagem, qual a importância que tinha na nossa comunidade.
Talvez outros, mais do que nós, possam sentir saudades desse tempo, dessa Nazaré dos Pescadores, dessa praia repleta de gente simples, incansável, de olhos pequenos, mas profundos, cansados de olhar para lá do horizonte, agonizando, uns, pela espera e outros pela observação do mar que, mais tarde ou mais cedo, haveriam de enfrentar.
Talvez esta simples imagem possa transmitir a serenidade de um povo que, secularmente agregado ao mar, tem na expressão facial as ondas que lhe marcaram a face e o sal que lhes enrugou os olhos.
Talvez, por fim, esta pequena imagem nos possa transmitir que o passado é isso mesmo; por muito que não o possamos resgatar, haveremos sempre de ser fruto dessa memória à qual nos orgulhamos de pertencer.
A todos os pescadores da Nazaré é devida uma perpétua homenagem.
A todas as embarcações que navegaram os mares próximos, e os longínquos, talhadas por mãos de sapiência inata, devemos uma vénia, pela beleza, segurança e exemplo inequívoco de um Património Industrial ainda por estudar.
Fernando Pessoa resume de uma forma que só esse grande poeta português o poderia fazer, tudo aquilo que o Mar representa para uma nação.
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Foto: Autor desconhecido, anterior a 1964. Espólio de Carlos Fidalgo