Jaime Cortesão – Alexandre Herculano, Ramalho Ortigão, Almeida Garrett e Fernanda Espinosa – entre outros, possui o dom de escrever a história de uma forma simples, para quem lê, mas de profunda análise para quem investiga. Não será por mero acaso que Jaime Cortesão é considerado uma dos maiores historiadores portugueses posto que, como diz Figueiredo Santos (2017), ” Ter consciência da História não é estar informado das coisas outrora acontecidas, mas perceber o universo social do acontecer como algo submetido a um processo ininterrupto e direccionado de formação e organização”.
Mas voltemos a Jaime Cortesão e a Nazaré: Não mais que três páginas ocupa o Autor com a Nazaré:
Refere Jaime Cortesão: «[…] Entretanto ultimava-se uma lenta transformação da costa; extinguiam-se pouco a pouco portos e povoados e confluíam velhos núcleos de pescadores para a Nazaré. Desapareceu primeiro o porto de Paredes, efémera criação de D. Dinis: atupiu-se a foz do Alcoa e o porto da Pederneira; diminuiu até às povoações minúsculas da concha de São Martinho o golfo que se encontrava terra dentro até Alfeizerão; esvaziou-se lentamente a Lagoa de Óbidos; sumiu-se o porto de Atouguia, e o remanescente da população marítima desses povoados somou-se aos núcleos primitivos e vizinhos de Paredes e da Pederneira. Além disso, o lento estreitamento da Ria de Aveiro, que eliminou portos de tanto movimento como Ílhavo e Ovar, carreou também o seu contingente marítimo para a bela enseada, de ancoradouro favorável [isto nada tem a ver com os tão falados “contrafortes da Pederneira” – saiba-se lá o que isso quer dizer (contra-fortes) – por quem durante anos e anos teimou em utilizar essa expressão], protegido como é dos ventos nortes, dominantes na costa portuguesa, pelo alteroso promontório do Sítio. E desta colaboração da Natureza e dos homens nasceu a Nazaré.»*
*CORTESÃO, Jaime. Obras Completas, 24, Portugal, a Terra e o Homem, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 3ª Edição, 1995, p. 180.