Os chamados Centros Históricos são locais que nos transportam no tempo e nos permitem imaginar vivências anteriores. Criados em tempos antigos foram, aos poucos e poucos, adaptando-se às necessidades das comunidades e, não raras vezes, extrapolaram os limites físicos que lhes deram origem.
Muitas vezes edificados ao redor de um edifício eclesiástico, outras partindo de zonas de grande actividade social e económica, as arquitecturas e espaços urbanos acompanhavam o ritmo social, o burburinho de uma qualquer comunidade.
Com o decurso do tempo foram sendo criadas zonas de expansão com a inevitável mutação da traça urbana que se foi alterando e adaptando-se, mais uma vez, às necessidades sociais e económicas da comunidade residente. E assim tem sido até ao presente.
No entanto, o grande problema que se coloca, e se tem colocado, no âmbito da gestão de alguns centros históricos, prende-se com a insipiente preservação dos mesmos, com maior incidência nas povoações litorais, em que a pressão urbanística se faz sentir com maior vigor.
Em muitos casos, os chamados Centros Históricos vão-se esvaziando da componente social e económica de raiz, dando lugar a reabilitações arquitectónicas mais adequadas à utilização turística e “empurrando” os antigos residentes para zonas periféricas. Perde-se, assim, a ligação entre o território, o social e a história que lhe estaria subjacente.
É necessário, por isso, implementar medidas por forma a que os Centros Históricos não fiquem desertos, impedidos de transmitir, geração após geração, a sua memória, a sua identidade.
Os Centros Históricos, hoje, são museus – os que ainda se preservam – para turista ver, viver e/ou usufruir, enquanto as populações autóctones olham para trás e apenas podem rememorar a vivência de tempos passados.
Um centro histórico não o é sem a vertente humana por muito importantes que sejam os monumentos que dele façam parte.
FIDALGO, Carlos. “Breve consideração sobre “Centro Histórico”, Artigo de opinião publicado no Jornal O Alcoa, edição de 7 de Janeiro de 2021.