Foto de uma das nossas saídas de campo
Não há como não ficar triste perante o desaparecimento de alguém que nos deu a mão, mesmo sem nos conhecer bem. De alguém que libertou o seu tempo para nos ajudar, que disponibilizou a sua importante biblioteca e, mais importante, o seu vasto conhecimento sobre a história local, regional e mesmo nacional, para que tivéssemos acesso a bibliografia que não existia em quase local algum deste Portugal.
Com o amigo e Sr. Eng.º Adriano Monteiro passei muitas horas, fiz muitas viagens, percorri muitos caminhos, visitei muitos locais, discuti muitos assuntos sobre os assuntos da história.
Foram largos os anos, mais largos os argumentos, que nos aproximavam nessa busca efectiva pelo conhecimento da nossa história, da história de todos nós.
Muitas tardes e noites por ali deambulei. Muitos livros folheámos em conjunto, mas o meu amigo Adriano não descansava enquanto não encontrasse uma referência, uma simples referência, para um trabalho que nunca seria dele, mas que tinha a sua prestimosa colaboração.
Aliás, o Adriano é “autor” de muitos livros e de muitas teses porque contribuiu com a sua bondade e espírito inigualável de ajuda para que se formassem licenciados, mestres e doutores.
Que percurso, Adriano, que disponibilidade, que força te impelia a pensar primeiro no outro em vez de ti!
O meu amigo Adriano não descansava, nunca descansou e partiu, com toda a certeza, pleno de novidades que um dia irão fazer parte da história da Nazaré, da história de vida de todos os que se dedicaram e a ele recorreram, para interpretar as curvas e contracurvas da investigação científica.
Mas as coisas simples, as simples coisas, as mais aparentemente insignificantes, são as que nos prendem mais. E, por isso mesmo, amigo Adriano, não me esqueço que quando te ia visitar o teu rádio estava sempre ligado na Antena 2, onde ouvias música clássica.
Entrava num outro mundo. O mundo do conhecimento, um mundo onde se discutia a Cultura real e não o devaneio a que chamam cultura.
Dizia o Adriano, que de nada lhe interessavam as notícias banais e que a música o ajudava a concentrar. Aprendi isso contigo. Aprendi e ainda hoje, sempre que trabalho, lá vai a música clássica, sempre.
E quantas horas, Adriano, passaste nessa cadeira, nessa secretária, mesmo ao lado da tua janela que iluminava o teu pensamento, as tuas cogitações, a pesquisar, a perguntar-te se isto ou aquilo teria sido mesmo assim…
Quantas vezes Adriano, sempre ao lado dessa luz que complementava a “iluminação” do teu enorme pensamento.
Ontem, dia 02 de Agosto do ano de 2022 faleceu um dos maiores, senão o maior investigador que este Concelho já conheceu, a quem esta região de Leiria muito deve.
Ontem, dia 02 de Agosto do ano de 2022, faleceu um grande ser humano, uma pessoa boa, gentil, amigo do seu amigo. O meu maior amigo.
Ao meu amigo e “professor” Adriano Monteiro deixo estas parcas palavras, certo que um dia falaremos mais alto em Louvor do teu caminho para com uma terra que não te viu nascer, mas à qual dedicaste toda uma vida.
Apetecia-me transcrever o poema de António Gedeão “Poema para Galileo”, mas não o faço, embora saiba que se “encaixa”, na plenitude, na pessoa que foste, na memória que deixas.
Prefiro, amigo Adriano, em jeito de Homenagem e Dor, deixar estas breves mas sentidas palavras e, como sei que gostavas, desta música que, com toda a certeza, irás continuar a ouvir no meio dos teus imensos e importantes livros, estejas onde estiveres.
Até um dia, Adriano, haveremos de continuar as nossas conversas sobre os dogmas, os locais, as pedras, as areias, os montes…, que tantas vezes discutimos.
Um abraço meu amigo, meu mestre, meu companheiro de tantas caminhadas. Descansa em Paz.