Prefácio: Professor Doutor, Pedro Gomes Barbosa
PREFÁCIO
O Mestre Carlos Fidalgo apresenta-nos um completo estudo sobre as igrejas da Pederneira, num período que vai do momento da Reconquista da região até ao século XVII. Trata-se de um estudo sério, apoiado em sólida bibliografia e documentação notarial, que tenta justificar as opiniões e as deduções do Autor. Muitos desses documentos são-nos fornecidos no coro do texto, evitando que o leitor tenha que “parar de ler” para os ir procurar em apêndice ou, o que se mostraria mais difícil, consultá-los nos arquivos onde estão depositados.
A escrita é clara e os argumentos são convincentes. Na realidade, não poucas vezes os autores elaboram as suas argumentações sem o conhecimento claro e profundo do terreno e da região que estão a tratar. Acresce a criteriosa utilização dos dados arqueológicos e a sua interpretação e inclusão no argumentário, completando assim as informações recolhidas nos documentos consultados.
A Pederneira foi uma das povoações mais importantes desta Estremadura Central, sendo esquecido, muitas vezes, o papel que teve num comércio que chegava às terras do Algarve, e talvez mais além. Não é de aceitar que a ida de barcos dessa povoação à costa sul do território português fosse feita apenas para capturar espécies piscícolas. As trocas comerciais tiveram, com toda a certeza, um papel fundamental nessas viagens. A não ser assim, como se explicaria tão longo percurso, quando o litoral estremenho era tão rico em pescado?
Essa riqueza “para além da pesca” explica o desenvolvimento da povoação, que tinha já no século XIII (se não antes) uma colegiada com vários porcionários (pelo menos cinco, segundo documento de Alcobaça de 1224), havendo nesse mesmo documento uma cláusula que referia a ausência de um qualquer sacerdote, sem perda dos seus direitos porcionários:
Statuimus est quod siquis clericorum cum licentia sui prioris in expeditione, uel in peregrinatione, uel in scolis per trieniũ uel in seruitio ecclesie fuerit…
Aqui se mostra a pujança do concelho da Pederneira e a vontade do D. Abade de Alcobaça em integrar o local dentro dos seus domínios, o que foi combatido com todas as forças pelos moradores… enquanto lhes foi possível.
A Pederneira merece estudo aprofundado e este trabalho do Mestre Carlos Fidalgo é um excelente contributo para o conhecimento da história deste porto de capital importância, mas também terra fértil, não só agricolamente (nomeadamente na produção de vinho, que originou problemas na questão do relego) mas a nível da pastorícia e da exploração metalífera, como a mina de ferro de Águas Belas.
Desejamos que Carlos Fidalgo alargue agora os seus estudos a outros aspectos desta terra que é a sua, e onde teve origem a Nazaré.
Pedro Gomes Barbosa
(Professor Associado com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)