Nota prévia
Em trabalhos anteriores dedicámos a nossa maior atenção à Igreja de São Gião. Assim aconteceu com as abordagens feitas no âmbito da presença humana em São Gião para o período romano e a análise à relação entre essa igreja e o povoamento na área da lagoa da Pederneira desde esse período até ao século XII. [1]
Analisámos, também, no 2º volume[2] da nossa dissertação de mestrado, a temática da arquitetura de São Gião, assim como os elementos escultóricos que ali ainda se encontravam, aquando das nossas pesquisas para a redação desse trabalho e, mais recentemente, fizemos uma análise aos trabalhos de arqueologia ali realizados.[3]
Assume-se, portanto, com naturalidade que, a partir da informação que fomos recolhendo para a elaboração desses estudos, tenhamos sido confrontados, aqui e acolá, com referências à Quinta de São Gião e, com alguma estranheza, fomos verificando a inexistência de estudos que tivessem como objecto aquela quinta.[4]
Se por um lado essas pequenas referências acabaram por despertar o nosso interesse em estudar a Quinta de São Gião, não é menos verdade que a existência de dois documentos facultados por outros tantos amigos ampliaram a possibilidade de uma nova reflexão, dando início a um processo de análise territorial, social e, sempre que possível, económica da Quinta de São Gião desde o século XIV até à primeira metade do século XX.
No entanto, a documentação, em particular os dois documentos que gentilmente nos facultaram, nos informa sobre a sua dimensão territorial e alguns aspectos da sua dinâmica económica, já sobre o seu património social as informações são escassas, mas ainda assim importantes e merecedoras de um trabalho de pesquisa que possa relacionar novos nomes àquele local.
Nesse sentido, recorremos aos registos paroquiais na esperança de colmatar essa falta de informação sobre os moradores da Quinta de São Gião, entre o século XVII e finais do século XIX.
Parece-nos, também, importante relevar que nos documentos do século XIX e XX, como se notará, decidimos ocultar a identidade das pessoas ligadas àquele local, por motivos de privacidade dos familiares ainda vivos – compromisso assumido por nós aquando da recolha de informação no terreno.
O que encontrámos foi ao encontro das nossas suspeitas, esperando que os novos elementos que agora se apresentam possam desencadear um conjunto de iniciativas que tenham como objecto a redescoberta do território de São Gião no que à ocupação humana diz respeito.
Certos que este trabalho não passa do início de um percurso, cheio de escolhos, é certo, não deixaremos de citar as palavras de Alexandre Herculano:
«Desde a primeira até à última página do meu pobre livro caminhei sempre por estradas duvidosas traçadas em terreno movediço; se o fiz com passos firmes ou vacilantes, outros, que não eu, o dirão.»[5]
[1] Confira-se a este respeito o nosso trabalho O Povoamento na Área da Lagoa da Pederneira (…), 2013.
[2] 2º volume da nossa dissertação de mestrado, apresentada à Universidade Aberta em 2010 que ainda não foi objecto de publicação.
[3] FIDALGO, Carlos; CARDOSO, J. L.“O templo pré-românico de São Gião (Nazaré): breve síntese das investigações realizadas e dos resultados obtidos”, Estudos Arqueológicos de Oeiras, Vol. 24, Volume Comemorativo do XXX Aniversário do Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (1988-2018), Câmara Municipal de Oeiras, 2018, pp. 503-522.,
[4] Apesar dos nossos esforços junto do Autor e da DGPC, não foi possível, tanto de um lado como do outro, localizar o trabalho, não publicado, de Pedro Penteado, supostamente depositado na DGPC, sob o tema: A igreja e a Quinta de São Gião (Nazaré): Fontes documentais para a sua História, Nazaré – Lisboa, 1999, policopiado; em publicação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico – IPPAR.
[5] HERCULANO, Alexandre. O Monasticon – Tomo I, Eurico o Presbístero, Livraria Bertrand, 1972, p. 279.